Gente faz um tempinho que tenho uma
divida com um camarada, que não por acaso, sim por Deus, é meu irmão. Ele,
Dionisio, me enviou esse texto já há algum tempo e pelas coisas do dia a dia
acabei não dando conta de postar sua obra aqui no Blog, porém agora vai ele aí,
para que todos possam desfrutar da capacidade intelectual desse moço, que agora
inaugura outra fase criativa de sua vida, o casamento.
Eu Maior que o
Mundo
Eu Menor que o
Mundo
Eu Igual ao
mundo...
Dionísio Josino
de Oliveira Filho
AMADURECÊNCIA - Viver, fluir. Por um acaso estou certo de que o acaso não
existe? Digo, desmistificando, não no sentido de desacreditar ou inviabilizar
expectativas de quem crê no destino... Vocês que estão aqui hoje, estão por que
ousam querer? Porque suas mentes esperam algo diferente... Algo diferente que
os tirem da rotina diária que os privam da paisagem a muito amarelada pelo sol
se pondo ou da hibernação noturna dos corpos...? Mas, ao contrário, estão aqui
para abrir possibilidades e tornar o mito mais próximo e comum. Nesse caso o
destino é só uma desculpa para justificar ou iluminar certos encontros ou
desencontros. Encontros e desencontros são passíveis de serem ouvidos, pois
emocionam, portanto notáveis o suficiente para serem comentados e produzirem o
resultado esperado. Ao acaso tudo se passa por natural, mas os caminhos, não
são nada naturais, é parte da cultura. Quem escolhe passar por onde, quando e
como? Assim como escolho estas palavras para palavrar ejaculadamente nos verbos
de minha língua. Assim como escolho outra infinidade de palavras para não
salivar ou reprimir o verbo lingual. Quem saliva um conto é o dono do volante
da história, falam de pessoas e magias, encontros e desencontros e não diz
sobre as formigas que atravessam a estrada no sentido inverso: o transversal.
Cada momento: Inesperado e inédito. Enquanto a história segue paralela, ela
segue, atravessando sem registro pela história, sem uma vírgula sequer. Talvez
fosse o caminho que passou pela formiga. Para minha língua salivadora de verbos
hipotéticos, a imaginação é a mente reagindo à pressão da realidade. No
entanto, o que a língua chama hoje de realidade seria simplesmente a imaginação
dos mortos: desta forma, ser realista é outro nome para o conservadorismo.
Precisamos da imaginação para inventar novos caminhos, seja para a nossa vida
pessoal, seja para a sociedade como um fim justo para a imaginação...
É meus amigos:
respirem fundo porque o mundo faz pouco caso do que os incomodam, mas hoje
dispomos nossos próprios sonhos para vocês, fechem os olhos e sintam fluir o
pedaço de chão que os levará ao casamento da viúva, as histórias contadas na
cama antes de dormir, a reza do padre, ao dia do casamento, a fuga da noiva, os
levará até a chuva que chove vento de água, ao hospício... E se vocês pegaram o
espírito da coisa, nós vamos levá-los para as suas vidas que a muito os
esperam...
CARLITO - Venham amigos, tomem a mão do carlito e passem para o outro
lado. A língua da
amadurecência que apouco anunciava o encontro entre o espectador sem nome e a
filosofia de carlito, vos fala agora que de encontro ao descanso, a ponte liga
o ponto de quem está só... De que a teoria da cabeça na lua fomenta uma
aprendizagem não imaginada pelos pedagogos e só pensada por pessoas pequenas na
sua grandeza de quem está junto!
MARIA DO GRÃO – Não escreva sons palavrados sem condição na realidade! Esse
anúncio deixará nossos espectadores no meio de uma passagem para uma terra de
lugares movediços, tão logo seus olhos se abrissem diante dos encantamentos a
que cada lugar-pintura os envolvessem...
CARLITO- Ora!
Mas é o que inevitavelmente se instaura quando desse encontro minha cara do
grão. Desde que chegados a essa terra de mistérios pictóricos, o outro lado a
que a vóz se referia... Não mais voltar é necessário, pois já se é outro desses
muitos que ora são, enredados por essa intrincada espacialidade tecida e
torcida no corpo do tempo.
MARIA DO GRÃO – Ora! O que a sua língua fala é uma maluquice. Quem, senão um louco salivaria
palavras verbos e criaria outro mundo ao invés de se adaptar a esse já
criado?
CARLITO - Criado desse mundo? Não! Subalterno de imposições? Nunca!
Quando se é exilado de si mesmo parte-se logo para outras
praias, as do desterro da ficção.
MARIA DO GRÃO - Ou não...
CARLITO - De todo modo, não se trata de qualquer tipo de mundo é
evidentemente, mas daquele que tem valor de filosofias do sujeito. De uma
autoria. E, conseqüentemente, do gozo obtido com isso. Salivo filosofias
hipotéticas para me estabilizar. Meus personagens são vis para que eu não precise sê-lo. A
filosofia é uma tampa de ralo de banheira que se coloca rapidamente para que a
água não escoe toda e deixe a gente a seco, nu, tremendo de frio, com a
sensação de que o líquido se foi, escorreu...
BOÊMIO - E o
parto começou: vamos ter que respirar por conta própria, pagar essa conta, o ar
entrando, queimando os pulmões. Sangue, suor e ainda por cima sem cerveja. Sem ser, veja. É uma rolha que
tampona o buraco que é sempre mais embaixo – ou acima, não importa.
MARIA DO GRÃO - O que há é que não se consegue
determinar o lugar, seu espaço, seu diâmetro, o que se sente é a espessura de
sua borda. É um risco que se borda e se corre, que se segue, de um bordado, uma
abordagem, no máximo. Um recorte numa mapa, litoral. Sempre mente, só aí se
chega...
POETA - À
verdade: pela mentira. É quando mais se mente: pela língua, essa de nossa
mentira primeira, a fantasia. Filosofia não é isso? Ilusão. Ilusão da verdade.
BOÊMIO - Qual?
MARIA DO GRÃO - Essas Todas. ..
POETA - Que a
vida não tem sentido, não tem objetivo, não tem clausura, boa formiga a
atravessar a transversal da rua... A relação sexual não há, nada de metade da maçã, nem nirvana.
Só uma banda, de cada lado: você pra lá eu pra cá, até quarta-feira, vou
acordar-me...
BOÊMIO - Há qualquer coisa estranha nessa
tal palavra fingida na realidade poética.Inquietação
etílica sem álcool, com até
a palavra última ejaculação, estado novo antigo. O verbo feito carne língua
salivadora de hipotéticas filosofias vãs, fodendo, dançando, bebendo. Ousando uma tal alteração
inexplicável que na falta
de melhor entendimento chamamos
prazer, alegria, poesia... Quem és tu para transfigurar a noção de paisagem
traduzida pelos olhos e inventar um mundo quase louco?
POETA – Um mundo quase louco?
BOÊMIO – Ora! Pois que sim! O mundo do Carlito é um mundo invisível,
simplesmente invisível, um mundo quase louco, pois que é completo sendo,
entretanto, meramente parcial pois, saliva na tênue linha hipotética de
filosofias vãs transloucas...
CARLITO - O acontecimento na amadurecência plenifica-se naquilo que
demanda vivência...
POETA – Sim!
CARLITO - Não há como olhar para cada micro-universo que se edifica no
tempo senão por uma medida ampliada de vivência, pois diante daquilo que pode
ser o banal, minha língua salivadora de filosofias hipotéticas reveste-se em
possibilidades de descoberta das passagens que o humano tece numa temporalidade
abismal...
BOÊMIO - Há bloqueios na entrada da sua ponte tênue... E anteparos de
imaginação de cor que se deslocam nos diversos campos da loucura meu caro
carlito... Você argumenta
ejaculadamente salivas palavras de uma
mutabilidade matérica que apela a que o espectador se mova para tentar passar
para o outro lado de sua condição costumeira...
POETA – E o que se espera sempre meu caro amigo de bar? O que se
espera é logo chegar, mas sair é inconcebível, pois os lugares movediços dessa
geografia apreendem o olhar que se torna presa fácil dos vários tons, nuanças,
“veladuras”, transparências e loucuras. Já estamos onde o amadurecência salivou
e carlito nos colocou... Nós aceitamos... Nos encontramos no centro de um lugar
que ora oculto se veste de muitos lugares em apenas um... O que já nos remete
ao estado de frementes confusões, sendo que essa parcialidade é completude. Mas
quem precisa de um lugar certo, estável, completo?
BOÊMIO - Carlito sabia o tempo todo que os muitos-mesmos lugares que
ele ergueu, podem nos remeter àquelas inevitáveis e esdrúxulas necessidades de
identificar os signos do mundo real... Você nos troce aqui...
MRIA DO GRÃO – Alguém... Alguém? Tire-me
daqui!
AMADURECÊNCIA - Venham amigos, passem para o outro lado, passem, aqui esses
lugares já não mais estão...
POETA - Qual sóbrio não seria ficar ali encontrando e brincando com
as fagulhas
sígnicas que já se tornaram velhas?
MARIA DO GRÃO – Não!
CARLITO - Maria! A voz
grita do fundo do seu vazio especular. Todas
as condições são possíveis e nenhuma é! Então tente, tente... E os olhares se enchem de temores. E
as dores dos dias reeditam seus pesares. E o tempo reflui em doses de
insustentabilidade... (sussurrando) “essência
e existência, imaginário e real, visível e invisível, a palavra salivada da
ponta da língua ejaculada em verbos de filosofias hipotéticas vãs, baralha
todas as nossas categorias ao desdobrar o seu universo onírico de essências
carnais, de semelhanças eficazes, de mudas significações”
POETA – Percebem... Percebem? Eis
o que de necessário é o habitar em nós: a condição da loucura como
acontecimento que baralha as nossas categorias... Estamos vivos? Estamos
mortos?
BOÊMIO – Não estamos mortos, tão pouco vivos... Mas estamos onde
carlito e o amadurecência nos trouxeram... Nossas tristes certezas... O tempo-lugar das salivas palavradas
em verbos filosofias hipotéticos de sua língua que não se quer como a fácil
escalada pelas representações usuais e comparações cínicas, o constante
surgimento de todos esses lugares que são o mesmo dele próprio que incitam o
olhar que nem sequer precisa estar ali...
POETA – Voltem todos que não esperam o tempo olhar...
CARLITO - Mas, tarde é para que se volte, pois o primeiro olhar já é o
que nos enreda a outros tantos olhares, para a descoberta dos lugares movediços
que são possíveis em lugares deles, lugares nossos, lugares outros. Tal é o
ampliado dessas mutabilidades pictóricas que não se perdem, não se fixam, não
acabam...
MARIA DO GRÃO - Voltem, voltem, voltem...
CARLITO – Vás só quando quiseres pousar da paixão que te rege a cabeça
sob a lua que gira, gira, gira...
MARIA DO GRÃO – Esquecer-te não era o que eu pensava... Mas essa vastidão de
filosofias hipotéticas de verbo em vastidões de incógnitas encontradas nas
salivadas palavras da amadurecência desenham na imaginação equações subversivas
aceitas passivamente apenas pela doce loucura de Carlito... Pois o poeta ainda
tem que se descobrir vivo ou morto para situar-se na vastidão do mundo...
POETA - As
imagens ejaculadas de verbos hipotéticos por Carlito pretendem representar
algo... Algo que se encontra lá fora do espaço tempo do seu mundo, eu sei que
Todos os dias é preciso quebrar uma fórmula, reinventar uma nova direção pra
mola, desintegrar partículas de moléculas e encontrar uma forma diferente de
fugir daquilo que a paisagem nos tira e nos dá refinado.
CARLITO – Perspectiva
Maria... Perspectiva... Uma nova visão de mundo... É isso que amadurecência
propõem...
POETA - Você
não palavra nada de sua língua? Mas pra mim tudo bem, pois também não acho que
você tenha algo a salivar de sua língua...
Por minha vez não te salivo verbos hipotéticos da minha língua porque acho que você não vai entender...
Por minha vez não te salivo verbos hipotéticos da minha língua porque acho que você não vai entender...
BOÊMIO - Me
parece óbvio que palavremos em silêncio assim... (desdém)
POETA - Mas a
obviedade também é algo surpreendente, pois de vez em sempre sigo sorrisos a
sós em meio à multidão mas me sinto estranho entre conhecidos e acho que são
todos eles paranóicos...
CARLITO - não me
basta sonhar. Não me salivem verbos que não forem filosofias palavradas do
invisível. Andar em círculos, a dança da chuva, é tão racional divagar sobre o
nada. Palavrar qualquer coisa e salivar em silêncio nem sempre diz nada se não
for o olhar quando quer perceber. O conceito de tudo é uma verbo morto, não
sabe de nada. Ás vezes palavras hipotéticas salivadas existem se lidas, ás
vezes apenas pelas entrelinhas.
as vezes no abismo o eco responde. E antes do
pulo todos podem voar. A menos que se prove o contrário.
Ás vezes não olho os meus descaminhos, não me
encaro no espelho, descompassado não sigo o que vejo e ouço meu grito salivado
de minha imaginação, a intuição. As vezes respondo, esqueço meu nome e me
chamam por número. Definições que me cortam ao meio, me dividem e subtraem, me
servem em bandeja, com maçã e molho madeira, que me nomeclature e classifique,
me descarte e massifique. As vezes há portas e não sei quais delas abrem.
Tantas liberdades, algumas quem me distraem. Entre a chave e a porta, um lugar
e um segredo. Passei por aqui, não era uma estrada e da ultima vez era só a
primeira. Eu não percebí quando se passou, minha voz dissonante, meus gestos
banais, pensamento semblante, nenhuma precipitação, nada comove, nenhum
pensamento deduz, livre tradução de uma língua morta, sonhos divertem mas nunca
me tocam. A mesma coisa nem precisa dizer, o contrário do contrário. Tentativas
de erros, nenhuma lição de moral no fim da história. Ninguém pegará no volante
da história e salivará hipóteses de minha vida. Alternativas me seguem e não há
saída. A minha justa balança do meu lado pende. Meu braço abre asa e também se
despedem. Jamais existiu a página rasgada dicionárica distante. Amarro meus
braços no meu travesseiro, sem mais a palavrar dormirei de maduro, caí de um
sonho, acordei deste lado pretendendo voltar, mas por outro caminho, outra
perspectiva...
AMADURECÊNCIA – “Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a
alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se
contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer...
dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração
e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução
para almejar-se. Morrer..., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate
o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando alfum
desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa idéia que torna
verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e
os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a
agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o
desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivessem em suas mãos obter
sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo,
se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais
ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males
conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz
covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha
sob a máscara do pensamento...”
Fim
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